Perfil biográfico de Campos Salles
Perfil biográfico de Campos Salles
Manuel Ferraz de Campos Salles nasceu em Campinas, a 13 de fevereiro de 1841 no casarão 23 da Rua do Bom Jesus, hoje Avenida Dr. Campos Salles, terceiro filho do Tenente Coronel Francisco de Paula Salles e de Dona Ana Cândida de Ferraz.
Campos Salles contava com 15 anos de idade, quando aparece em Campinas um primo de seu pai: Malaquias Rogério de Salles Guerra; negociante de pessoa influente em São Paulo; que ao saber da aptidão de Maneco para os estudos e o desejo velado de seu pai, oferece-lhe seu teto em São Paulo, para que o rapaz pudesse continuar os estudos; Francisco ficou pensativo ao que interveio José Maria, seu filho mais velho; dizendo ao pai que o menino deveria ser levado para São Paulo, para ser melhor aproveitado e não perder-se na faina humilde da roça e mesmo porque seus amigos de mesma idade já o fizeram, Francisco Quirino, Jorge Miranda, Bernardino de Campos, Francisco Glicério e outros.
Campos Salles frequenta São Paulo o curso do professor Vicente Mamede de Freitas, tendo concluído o curso de história, filosofia, retórica, geometria, latim, inglês e francês. Ingressou aos 18 anos na Faculdade de Direito do Largo do São Francisco, quando mudou da casa do tio, indo morar em uma república com os amigos: Teófilo Carlos Benedito Ottoni, Prudente José de Morais Barros, Francisco Rangel Pestana, Francisco Quirino dos Santos, Bernardino de Campos e outros.
No segundo ano de faculdade, Campos Salles começa a publicar na Revista “Memórias da Associação Culto a Ciência”, associação esta formada pelos ex-alunos do professor Vicente Mamede de Freitas, nesta ocasião inicia-se na oratória com Prudente de Morais e Rangel Pestana, sendo seus duelos de oratória aplaudido pelos colegas.
No terceiro ano de faculdade, Campos Salles juntamente com Francisco Glicério e Francisco de Paula Belfort Duarte, funda o jornal “A Razão” que com sua característica política e liberal se torna a trincheira preferida contra os conservadores e monarquistas. Campos Salles e sua turma viveram intensamente a vida acadêmica sendo excelentes oradores.
Durante os anos de faculdade, Campos Salles tomou contato com a Burschenschaft, trazida da Europa pelo professor alemão Dr. Julio Frank, a qual tinha sua origem e se assemelhava à maçonaria, sendo uma sociedade secreta estudantil.
A bucha como era chamada, tinha um cunho liberal, abolicionista e republicano, sendo que a maioria dos positivistas da época pertenciam a ela, tais como: Rodrigues Alves, Campos Salles, Venceslau Braz, Rui Barbosa, Prudente de Morais e outros.
Ao se formar aos 23 anos, volta para Campinas e abre seu escritório. Nesta época conheceu sua prima irmã Ana Gabriela; Aninha como era conhecida; e em junho de 1865 casam-se; ele com 24 anos e ela com 15 anos, o enlace aconteceu na Matriz Velha, época que Campinas contava com aproximadamente 30 mil habitantes.
Antes de se formar, Campos Salles foi iniciado na maçonaria, os dados não são claros e exatos quanto a Loja em que ele foi iniciado. Alguns escritos fazem referência a antiga Loja Independência e outros a antiga Loja Fraternidade Campineira, ambas tendo abatido colunas por volta de 1860.
Em 28 de dezembro de 1867 Campos Salles filia-se à Loja Maçônica Independência.
Em 28 de agosto de 1874, o Grão Mestre do Grande Oriente Unido, Ir.’. Saldanha Marinho, visita a Loja Independência, sendo o discurso de homenagem feito pelo orador Ad Hoc Campos Salles.
Campos Salles junto com os irmãos Quirino e Jorge Miranda funda a “Gazeta de Campinas” em 31 de outubro de 1869, o qual foi combativo a monarquia e fomentador das primeiras manifestações republicanas.
Dado seu cunho republicano, lidera o Clube Republicano de Campinas, fundado em 14 de julho de 1886 se tornando o mais importante de todo o país.
Campinas, sem dúvida, era a cidade mais importante do Império, pois, enriquecida pelo café, naquela época possuía 21 titulares do Império, o que representava muito mais que a cidade de São Paulo.
Campinas era tão importante que D. Pedro II veio pessoalmente inaugurar a Companhia Mogiana de Estradas de Ferro e Navegação em 1885.
Como resultado do forte movimento republicano, tendo em Campos Salles a sua liderança, Campinas foi denominada A Meca da República.
Campos Salles com sua liderança ativa, torna-se aos 26 anos Deputado pela Província de São Paulo, nesta época como secretário do recém fundado Colégio Culto a Ciência do qual fora fundador junto a outros maçons, promove a reforma do ensino, tornando-o livre e obrigatório.
A sua experiência em São Paulo como participante do grupo positivista Associação Culto a Ciência, faz com que Campos Salles se torne um grande defensor da cultura. Por idealização do Ir.’. Antonio Pompeo de Camargo foi criado em Campinas a Sociedade Culto a Ciência, positivista e que teria como objetivo, erguer um colégio em Campinas. Campos Salles, Jorge Miranda e Cândido Ferreira da Silva foram os responsáveis pela elaboração dos estatutos da sociedade.
O colégio teve sua pedra fundamental lançada em 13 de abril de 1873 e em 12 de janeiro de 1874, o Colégio Culto à Ciência é inaugurado com veemente discurso de Campos Salles, o qual na época era membro da Comissão de Justiça da Loja Independência, e Secretário Geral da Associação Culto à Ciência, formada exclusivamente por maçons.
É reeleito Deputado Provincial em 1881 e em 1884 é eleito para a Assembleia Geral, sendo ele e Prudente de Morais, recebidos com apupos no Rio de Janeiro, tendo à frente Saldanha Marinho que representava São Paulo, Minas e era chefe da Maçonaria Brasileira.
Na Câmara Federal, Campos Salles destaca-se não só por seu ideais republicanos, mas também por sua intensa Campanha Abolicionista com o apoio efetivo da Loja Maçônica América e de toda Maçonaria Brasileira.
Por ocasião da abolição dos escravos em 13 de maio de 1888, Campos Salles já havia alforriado seus escravos um ano antes.
A abolição e a república foram resultados de intenso trabalho e da atuação indiscutível da Maçonaria Brasileira.
Após a proclamação da república e instalação o Governo Provisório; Campos Salles é convidado para assumir a pasta da Justiça sendo um de seus atos mais importantes, a instituição do casamento civil obrigatório antes da cerimônia religiosa, o que lhe valeu atritos com a igreja.
O início da república foi cheio de desencontros e descontentamentos, culminando com a renúncia de Deodoro da Fonseca e ascensão ao poder de Floriano Peixoto, que termina o mandato em 1894 em grande crise financeira e militar.
Neste ano o Partido Republicano elege Prudente de Morais e em 1896, Campos Salles se elege governador do estado de São Paulo, sucedendo a Bernardino de Campos. Em 1898 Campos Salles é eleito Presidente da República, com uma vitória esmagadora de 420.000 votos a 40.000; sendo seu contendor o General Lauro Sodré, ex-governador do Pará e também maçom.
Como conhecia os problemas financeiros do país, antes de tomar posse, viajou para a Europa e Estados Unidos para discutir a dívida externa.
Prudente de Morais entendia que sendo aquela uma viagem de interesse do Estado, este deveria subsidiá-lo; Campos Salles aceitou e definiu uma quantia considerada irrisória pelos políticos da época; na sua volta o impacto foi maior, pois gastou somente 15 contos e seiscentos mil reis, uma vez que preferiu hospedar-se nas embaixadas, retornando o restante aos cofres públicos.
A sua administração no quadriênio de 1898 a 1902, foi marcada pela austeridade econômica que apesar da impopularidade equilibrou o orçamento e resgatou o crédito da República, ganhando prestígio internacional.
Campos Salles sendo conhecedor que seu governo não havia agradado a todos, comparece a uma recepção no Ministério do Exterior dois dias após sua saída da Presidência e diz;
“Se o meu governo não alcançou tudo o que fora mister, pelo menos o Brasil já não figura mais dentre as nações devedoras”.
Campos Salles fez excelente administração no país mas péssima de seus próprios bens, tendo saído pobre do governo, sendo obrigado a penhorar sua fazenda para realizar o casamento de sua filha Sofia.
Anos mais tarde é novamente lembrado para a Presidência com o apoio da imprensa, mas não aceita e indica Afonso Pena, o qual é eleito o quarto presidente civil da república.
A sua condição de vida simples e austera, ao invés de trazer-lhe constrangimento, só lhe deu respeito e satisfação, como por exemplo da visita do General e Presidente Argentino Julio Rocca do qual era amigo quando presidente; este ao desembarcar no Rio, foi visitar Campos Salles, ao chegar em sua casa simples, perguntou com espanto:
“É assim que você mora”?
– Sim, é o que possuo. Não sou rico, como você sabe.
Rocca abraço-o comovido e diz:
– São homens assim que fazem a grandeza desse país…
Ao escrever suas memórias finaliza com as seguintes frases sobre sua atuação como presidente da república.
– “Não suspendi uma só garantia”
– “Nenhuma liberdade foi violada”
– “O propagandista não se desmentiu no governo”
Campos Salles foi sem sombra de dúvidas um cidadão e um maçom exemplar empregando a todo instante a sua inteligência, competência e liderança em benefício da sociedade. Exerceu sempre e indiscutivelmente a cidadania na sua plenitude de deveres e obrigações.
Quando olhamos o perfil deste grande homem, deste fenomenal maçom, somente um desejo deve correr em nossos corações, de imitá-lo, de igualá-lo e superá-lo, pois se assim o fizermos, com certeza seremos cidadãos e maçons fortes, cumpridores de nossas obrigações e com certeza, teremos o direito de pertencer a galeria de maçons que cumpriram com seus deveres e com seus juramentos.
Campinas, 30 de maio de 1992
ARLS Campos Salles 2654